Em seu livro de memórias Código da Vida, o advogado e ex-ministro da Justiça do governo de José Sarney, Saulo Ramos (falecido em 2013), padrinho da indicação de Celso de Mello ao STF, relatou um episódio inusitado ocorrido com o seu afilhado.
Quando José Sarney decidiu candidatar-se a senador pelo Amapá, o caso foi parar no STF, porque os adversários resolveram impugnar a candidatura. Com maioria já definida contra a impugnação, Celso de Mello votou a favor, surpreendendo seu padrinho Saulo Ramos, mas depois telefonou para explicar-se.
Escreveu Ramos em seu livro:
-
"(...)
– Doutor Saulo, o senhor deve ter estranhado o meu voto no caso do presidente.
– Claro! O que deu em você?
– É que a Folha de São Paulo, na véspera da votação, noticiou a afirmação de que o presidente Sarney tinha os votos certos dos ministros que enumerou e citou meu nome como um deles. Quando chegou minha vez de votar, o presidente já estava vitorioso pelo número de votos a seu favor. Não precisava mais do meu. Votei contra para desmentir a Folha de São Paulo. Mas fique tranquilo. Se meu voto fosse decisivo, eu teria votado a favor do presidente.
– Espere um pouco. Deixe-me ver se compreendi bem. Você votou contra o Sarney porque a Folha de São Paulo noticiou que você votaria a favor?
– Sim.
– E se o Sarney já não houvesse ganhado, quando chegou sua vez de votar, você, nesse caso, votaria a favor dele?
– Exatamente. O senhor entendeu?
– Entendi. Entendi que você é um juiz de merda!"
Nenhum comentário :
Postar um comentário
Seu comentário será exibido após análise do editor.